The Coffee Experience

Ainda não consegui frequentar restaurantes, mas tenho me saído bem com os cafés. Como eu adoro caminhar, passo pelas ruas comerciais e observo os mercados, lojas e as inúmeras cafeterias. É impressionante como os brasilienses gostam de cafés. Existem muitos tipos de grãos, de intensidade, formas de coar, cafés gelados... fico perdida com tantas opções, igual nos investimentos. Como sou uma pessoa fiel, já encontrei minha cafeteria favorita na qual adoro tomar chá ouvindo os sinos. Combinei comigo mesma que posso ingerir apenas duas bebidas, um salgado e uma sobremesa cada vez que eu for lá. Se não comer a sobremesa estou no lucro! Como só vou aos fins de semana, até que não fica pesado, pois também faço uma caminhadinha para ir e voltar. Este café está quase sempre cheio e há frequentadores de todos os estilos. Enquanto as pessoas conversam sobre suas vidas ou dos outros saboreando tantas comidas e bebidas deliciosas, passa um senhor entregando papeizinhos pedindo ajuda porque tem uma filha deficiente e dois netos em casa para cuidar, um acidentado cheio de ferros e parafusos pelo corpo vendendo panos de prato, mais ou menos assim. Eu levo um livro, sento e observo o ambiente. Dias atrás ouvi a seguinte conversa:

Conselhos de um pai sessentão para sua filha de uns 15 anos...

“Fala pra sua mãe que você não é pombo-correio! Nem adianta ela ficar te entregando esses pacotes... cada um tem o seu papel nessa relação: ela tem papel de mãe, eu o de pai, e você o de filha, diga isso para ela! Ela tem que entender que eu preciso de terapia, você precisa de terapia e ela também precisa de terapia! Sua mãe sofreu muito com homens na vida dela, menos comigo! Mas ela nunca vai admitir isso. Nós não demos certo porque ela tinha um jeito muito masculino, no trânsito ela gritava, xingava palavrão, e eu gosto de mulher feminina. Ela teve vários traumas na vida dela, o primeiro foi que o pai dela era 16 anos mais velho que a mãe, depois ela teve que cuidar do pai antes dele morrer, e eu também sou 16 anos mais velho que ela. Pode ser que ela tenha sofrido abuso também quando criança, é uma possibilidade. Ela tem muito medo que você sofra com homens também, mas ela precisa entender que não é evitando falar sobre isso que você não vai sofrer. Ela está perdendo a oportunidade de ser sua amiga, de ouvir você falar que sente atração ou tesão por alguém. Isso é normal acontecer. O importante é saber se a pessoa é boa, se vai cuidar de você, se será uma luzinha em sua vida... você pode se sentir à vontade pra conversar comigo sobre o que for, eu só não te garanto que vou te apoiar, mas vou te ouvir sem julgamentos e te falar o que eu acho. Se você quiser ir para Alto Paraíso ficar comigo, é só falar. Eu quero ter essa proximidade com você agora, porque daqui uns dias você terá vinte anos. E eu estarei setentão, espero que com saúde porque eu me cuido, mas você vai cuidar de sua vida, então o momento pra estarmos juntos é agora. Eu já aceitei que o seu irmão é uma pessoa que precisarei ajudar para sempre, ele tem problemas neurológicos, mas você não, você recebeu muito carinho, é a primeira neta, é inteligente, vai desenrolar...”

O pai, apesar de aparentar essa idade por causa da pele do pescoço e do braço, era um homem de excelente fisionomia. A filha, linda, não se parecia muito com o genitor, o que me fez achar que a mãe seja uma mulher muito bonita no sentido “beleza descartável” que gera o amor líquido. No aspecto financeiro, eles não me pareceram ter problemas. Cada vez mais eu acredito que paz é um estado de espírito que pouquíssimo tem a ver com aparência.

Saí, olhei para o verde, respirei e voltei ouvindo belas músicas.