Qual é o meu Sonho?

“Ainda está escuro quando o assoviar de um pássaro invade o profundo sono de Sany... ela o escuta como uma onda distante, o coração é despertado antes da mente e, quando o som sobe, lembra-se do dia regozijante que tem pela frente. Nesse despertar, ouvindo aquela saudação cerimoniosa que anuncia a aurora, Sany fica por alguns minutos em um estado de semiconsciência prazerosa, revira-se no lençol e travesseiro acetinados e, quando abre as janelas da alma, vê sua imagem favorita: o cego ao seu lado. Ele acorda cedo, é o costume da roça. Aliás, o cego nunca dorme, o terceiro olho está sempre aberto. Mas como prefere não perturbar o descanso de sua querida, fica quietinho, apenas se deliciando com os sons e o frescor do novo dia. A menina, ao contrário, logo após abrir os olhos envolve-o em um grande abraço. Não é preciso dizer nada, ambos entendem perfeitamente que esta é a melhor forma de acordar. Assim ficam por algum tempo, o espetáculo sempre único do amanhecer está bem à frente. Depois desse espreguiçamento vagaroso, levantam para o dia com uma boa limpeza de água limonada. Arrumam-se para um passeio na floresta. O cego anda e a menina corre, sempre dando voltas que o alcançam com abraços e beijos. Depois de suados e cansados, voltam para tomar um banho revigorante e um café cheiroso, com cacau e canela... é o dia mais-que-perfeito. Em seguida, ajeitam-se confortavelmente em uma poltrona, um sofá ou uma rede, e a menina põe-se a ler para os 2. Nisso conversam sobre aquelas ideias, riem ou choram juntos. É como se o tempo não passasse, ficariam nesse estado de transe por inúmeras horas sem perceber a passagem do tempo, por isso Sany fica atenta ao relógio – cujos ponteiros se arrastam quase no mesmo estado de gozo – para não esquecer de preparar o almoço. Assim, logo para e começa a separar os ingredientes da principal refeição do dia, faz isso com tanto amor que mais do que nutrientes aquela comida carrega potente energia quântica. Enquanto isso, o cego vai cuidar do jardim. Apesar de nada enxergar, ele cuida muito bem das plantas, que o adoram. Pouco mais de uma hora se passa e a refeição está pronta, a mesa é sempre bem-posta com rosas recém-colhidas, não é possível dizer o que é melhor: se o cheiro, o gosto ou o retrato. A sobremesa é chocolate e um cochilo. Assim que retornam ao dia, preparam-se para atender às necessidades externas, vão ao supermercado, padaria ou outro lugar em que precisem resolver algo. O cego sempre de braço dado com a menina, que sente a maior alegria de o carregar a tiracolo, entretanto – não se enganem – quando um problema surge quem toma as rédeas e o resolve é o cego, que tem uma imensa habilidade para perceber tudo o que acontece e encontrar alternativas inimagináveis. Caminham sorrindo discretamente para todos – é o estado de espírito natural dos 2. Quando retornam ao lar, é hora da leitura vespertina. Ao aproximar do anoitecer, tomam um chá de agradecimento à presença do calor por mais um dia. Após, dão um último passeio através da floresta. Depois a mesa é novamente posta, à luz de velas, para o jantar irresistível. Por fim, a noite é brindada pelo piano que preenche todos os seres da cabana. O cego ouviria os treinos da menina por horas, mas ela cansa, então vão se deitar satisfeitos e embalados com o céu estrelado. Entre os 2, apenas a-MOR-cego. São muitos os curiosos e interessados em participar desta felicidade áurea, mas o cego expressa pelos demais apenas cordialidade – aprendeu a duras penas o que deve ser mantido em segredo. Nesta caixinha de música os dias e noites assim se repetem, infinitamente. ”

Fantasia? Delírio?? Ilusão???

Se eu consigo pensar é possível realizar. Não importa onde e quando, em algum lugar do espaço-tempo isso existe ou existirá.


E mais! Há algum tempo vi que esta casa ficou em 2º lugar entre 25 obras-primas da arquitetura mundial pós-guerra indicadas pelo NY Times e fiquei encantada, apesar de eu preferir madeira e tijolinhos, achei a abertura do espaço tão fascinante. E olha só, hoje estou num lugar bem parecido, mas no 6º andar – e nem insisti por isso. Quando abro a janela vejo um imenso verde abaixo, e acima um imenso azul, cruzados somente pela luz dourada.

Moral da história: entregue seus melhores sonhos ao universo.

Tentar resolver a quadratura do círculo é mais instigante que encontrar a solução.

A estrela conduz os reis...