3/120 - Seu Tino

Considerando a minha inaptidão para investimentos financeiros (sinto que já poderia escrever um livro sobre a blogosfera – por sinal, aqui é um prato cheio pra um romance, Tolstoi se banquetearia com tantos personagens – mas aplicar que é bom nada), resolvi convocar o guerreiro: Seu Tino.

Seu Tino desde cedo demonstrou uma habilidade inata para multiplicar dinheiro. Após sair da roça, rapidamente conquistou na cidade um patrimônio considerável, que permitiria a si e sua família levar uma vida abundante em termos financeiros. Mas, eis que o destino não o poupou: permitiu que sofresse um acidente banal que lhe custou a visão física. Aos 34 anos, ficou cego. Em quem podemos confiar nesta situação? No caso de Seu Tino, em ninguém. Sua esposa era uma mulher insensata, de forma que os filhos foram criados na futilidade e ausência de valores. E, tão cedo quanto o dia é engolido pela noite, o patrimônio esvaiu-se assim que os filhos cresceram. Eu já nasci nas trevas. O filho que me colocou no mundo, além de não me orientar, embaralhou todo o meu quebra-cabeças. Em abril de 2011, a vida me cravou um punhal no peito: levou Seu Tino sem que eu pudesse dizer adeus. Eu o amava imensamente, mas devido aos inúmeros problemas familiares, estava afastada. Mesmo assim, fui eu quem carreguei seu corpo pelas ruas daquela cidade morta e o enterrei. A partir desse dia, o sangue não pararia de jorrar. Vasculhei esse mundo em busca de Seu Tino, procurei em todas as religiões e filosofias. Não o encontrei. Mas encontrei a mim mesma, ou, pelo menos, a pessoa que eu posso SER. Após essa década vagando perdida, consegui organizar minimamente as peças. Hoje penso que talvez esse era justamente o meu mote. E a vida me pergunta: “Você é capaz de extrair poesia?” Ahhh... ela insiste: “Eu quero a poesia! Sem choro nem pirraça.” Agora Seu Tino está mais vivo do que nunca na minha memória: viveu e lutou como um cisne, apesar de toda a lama ao seu redor. Aliás, esse trecho de “Swan Lake” exprime bem a sua energia. Nunca reclamou, suportou todas as adversidades com coragem. Então, lembrei disso e resolvi convocá-lo toda vez que eu for mexer com investimentos daqui pra frente, ele terá que acordar pra me ajudar, onde quer que esteja. Afinal, é ele quem está no meu altar.

Mudando completamente de assunto, hoje foi dia de sessão da tarde. Quase todos os sábados têm sido. Como é isso? Saio por volta de meio-dia e estaciono perto da Catedral, que fica ao lado do centro comercial. Ligo minha playlist de músicas com letra e vou caminhando pelas ruas movimentadas, olhando as pessoas. É triste, mas elas são tão mais feias ao vivo. E não falo sobre detalhes físicos, mas sobre fisionomia. É difícil ver alguém leve. Quando encontro um exemplar deste admiro longamente. Acabo vendo também as vitrines das lojas, sei a última moda de quase tudo, mas pra mim é apenas mais do mesmo. Desço até o mercado, cuja estrutura não é das melhores mas, que cheiro bom! Como a roça e o verde cheiram gostoso. Vejo também um grupo de capoeiristas à distância, gosto dos movimentos e do batuque. Quando retorno o centro comercial já fechou e as ruas estão vazias. Passo na Catedral e faço uma oração. Essa é a minha sessão de sábado. Detesto streamings de filmes/séries. Acho super entediante.

Sem mais para o momento, aproveito o ensejo para enviar-lhe meus cumprimentos com estima e distinta consideração.

Vi isso em algum lugar e quis copiar, rsss.

Hasta la vista, baby!